O Papa: devemos aprender a não amaldiçoar, mas a abençoar
O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a oração, na Audiência Geral desta quarta-feira (02/12). “A bênção”, uma dimensão essencial da oração, foi o tema deste encontro semanal realizado na Biblioteca do Palácio Apostólico, por causa da pandemia de coronavírus.
“Nas narrações da criação Deus abençoa continuamente a vida. Abençoa os animais, abençoa o homem e a mulher, e no final abençoa o sábado, dia de descanso e de fruição de toda a criação. Nas primeiras páginas da Bíblia, é uma repetição contínua de bênçãos. Deus abençoa, mas também os homens abençoam, e depressa descobre-se que a bênção possui uma força especial, que acompanha o destinatário ao longo da vida e dispõe o coração humano a deixar-se mudar por Deus”, disse o Papa, acrescentando:
Portanto, no início do mundo há Deus que “diz bem”, que bendiz. Ele vê que cada obra das suas mãos é boa e bela, e quando chega ao homem e completa-se a criação, Ele reconhece que é «muito boa». Pouco tempo depois, aquela beleza que Deus imprimiu na sua obra será alterada e o ser humano se tornará uma criatura degenerada, capaz de difundir o mal e a morte no mundo; mas nada poderá apagar a primeira marca de Deus, uma marca de bondade que Deus colocou no mundo, na natureza humana, em todos nós. A capacidade de abençoar e ser abençoado. Deus não errou com a criação, nem com a criação do homem. A esperança do mundo reside completamente na bênção de Deus: Ele continua a nos amar, Ele primeiro, como diz o poeta Péguy, continua a esperar o nosso bem.
O Papa frisou que “a grande bênção de Deus é Jesus Cristo, é o grande dom de Deus, é o seu filho. Uma bênção para toda a humanidade, uma bênção salvou todos nós. Ele é a Palavra eterna com o qual o Pai nos abençoou, «quando éramos ainda pecadores», diz São Paulo: Palavra que se fez carne e foi oferecida por nós na cruz”.
“Não há pecado que possa cancelar completamente a imagem de Cristo presente em cada um de nós. Nenhum pecado pode cancelar aquela imagem que Deus nos deu. A imagem de Cristo. Pode desfigurá-la, mas não a pode subtrair à misericórdia de Deus. Um pecador pode permanecer nos seus erros por muito tempo, mas Deus é paciente até ao fim, esperando que no final aquele coração se abra e mude. Deus é como um bom pai, é um bom pai, e como uma boa mãe. Ele também é uma boa mãe: nunca deixam de amar o seu filho, por mais que ele possa errar, sempre.”
Penso nas muitas vezes que eu vi as pessoas fazendo fila para entrar nos cárceres. E muitos mães ali na fila para ver o seu filho preso. Não deixam de amar o seu filho. Elas sabem que as pessoas que passam nos ônibus, dizem: “Esta é a mãe do encarcerado”. Não tem vergonha disso, aliás, tem vergonha, mas vão adiante porque é mais importante o filho do que a vergonha. Nós para Deus somos mais importantes do que todos os pecados que cometemos. Porque Ele é Pai, Ele é mãe, Ele é puro amor, Ele nos abençoou para sempre e nunca deixará de nos abençoar.
“Uma forte experiência é ler estes textos bíblicos de bênção numa prisão, ou numa comunidade de recuperação. Fazer com que as pessoas que permanecem abençoadas apesar dos seus graves erros, sintam que o Pai celestial continua a amá-las e espera que elas finalmente se abram ao bem”, disse ainda o Papa. “Se até os seus parentes mais próximos os abandonaram, e muitos deixam e não são como aquelas mães que enfrentam fila ver os filhos, não importa, os abandonaram porque são considerados irrecuperáveis, para Deus continuam sendo sempre filhos. Deus não pode cancelar em nós a imagem de filho. Cada um de nós é filho, é filha. Às vezes acontecem milagres: homens e mulheres renascem. Porque encontram essa bênção que os ungiu como filhos. Porque a graça de Deus muda a vida: aceita-nos como somos, mas nunca nos deixa como somos.”
“Pensemos no que Jesus fez com Zaqueu. Todos viam nele o mal; ao contrário, Jesus vê nele um vislumbre de bem, e dali, da sua curiosidade em ver Jesus, faz passar a misericórdia que salva. Foi assim que primeiro mudou o coração e depois a vida de Zaqueu. Nas pessoas menosprezadas e rejeitadas, Jesus via a bênção indelével do Pai. Este é um pecador público, fez muitas coisas ruins, mas Jesus via o sinal indelével da bênção do Pai. E teve compaixão, como diz o Evangelho. Aquela compaixão muda o seu coração. Mais ainda, chegou a identificar-se com cada pessoa em necessidade. Jesus nos dirá: eu estava ali, eu estava doente, afamado, nu, encarcerado, no hospital. Eu estava ali.”
A Deus que abençoa, nós também respondemos abençoando: Deus nos ensinou a abençoar e nós devemos abençoar. É a oração de louvor, de adoração, de ação de graças. A oração é alegria e gratidão. Deus não esperou que nos convertêssemos para começar a amar-nos, mas o fez muito antes, quando ainda estávamos no pecado.
Não podemos apenas bendizer este Deus que nos abençoa. Devemos bendizer tudo Nele. Todas as pessoas. Bendizer a Deus é abençoar todos os irmãos, abençoar o mundo. Esta é a raiz da mansidão cristã. A capacidade de se sentir abençoado e a capacidade de abençoar. Se todos nós fizéssemos assim certamente não haveriam as guerras. Este mundo precisa de bênção e nós podemos dar e receber a bênção. O Pai nos ama. E tudo o que nos resta é a alegria de o abençoar e lhe agradecer, e de aprender com Ele a não amaldiçoar, mas a abençoar.
Uma palavra para as pessoas que são acostumadas a amaldiçoar. As pessoas que têm sempre na boca e no coração uma palavra ruim, uma maldição. Cada um de nós deve pensar: “Tenho o costume de amaldiçoar” e pedir ao Senhor a graça de mudar esse costume, porque temos um coração abençoado e de um coração abençoado não pode sair a maldição. Que o Senhor nos ensine a nunca a amaldiçoar, mas a abençoar.
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Com informações e foto do Portal Vatican News.